sábado, 30 de agosto de 2008

Piauí em São Paulo

“O ex-escravo das drogas” faz campanha contra o fumo pelas ruas da cidade.

Magro, baixo, cabelo rastafari, barba comprida, com os olhos atentos no que acontece ao redor e bom de papo. Esse é o Antônio José da Silva, o Piauí.
Ele tem 43 anos, morou durante dezesseis na rua, chegou a fumar três maços de cigarro por dia e era viciado em maconha e crack. Está longe das drogas – incluindo cigarro e bebida – há quinze anos e hoje, no momento em que o Governo tenta proibir o fumo em lugares fechados, ele dedica seus dias em campanha contra o tabaco.
Ele chama a atenção de quem passa pela Avenida Paulista, onde expõe cartazes alertando que o cigarro faz mal à saúde e polui o ambiente. Além desses cartazes, que ficam no chão, ele enche garrafas PET com bitucas de cigarro que recolhe na rua e expõe uma escultura feita por ele, que representa o mundo poluído pelo cigarro. Diz que é um defensor da natureza.
Piauí pretende contar sua história em um livro, cujo nome será “O ex-escravo das drogas”, e diz que mudou de vida por causa de uma mulher.
Conheceu sua atual esposa quando ainda morava na rua. Na ocasião, ele fumava maconha. Ela olhou para o homem drogado e de aparência suja e disse que ele não poderia ser derrotado pelas drogas. “Ela tinha só 15 aninhos e me disse que eu era um cara bom, mas não poderia deixar a droga crescer para cima de mim. Eu é que tinha que crescer para cima dela”.
A partir desse dia, Piauí decidiu mudar de vida. Pediu aquela mulher em namoro e, juntos, fugiram para o Amazonas. Estão casados há quinze anos e têm duas filhas, Babilônia, de 13, e Mara Luara, de 11. Piauí ganha a vida vendendo artesanato e sua esposa trabalha em um supermercado.
Enquanto expõe sua arte, jovens passam pela Paulista e o cumprimentam. Outras pessoas, que não conhecem aquela figura excêntrica, olham com curiosidade, mas passam sem parar.
Ele conta que estudou só até o segundo ano primário, mas faz questão de dizer que gosta muito de ler e sempre aconselha os jovens e as suas filhas a estudar.
Durante anos viciado em drogas e morando na rua, Piauí enfrentou muitas humilhações e dificuldades. Em uma ocasião, quando dormia, acordou com o cobertor pegando fogo. Chegou a comer lixo e, no auge do vício, em 1982, foi até a Colômbia porque ouviu falar que lá tinha muita droga.
Livre do cigarro, do álcool, da maconha e do crack, hoje ele pratica esportes e se orgulha em dizer que acorda todos os dias às cinco e meia da manhã para correr.
Piauí é um homem simples, não tem pudores para falar sobre seu passado, conversa e argumenta muito bem, e é cheio de planos.
Um de seus sonhos é fazer um trabalho na Cracolândia para ajudar os viciados a sair das drogas. “Eu conheço a língua deles, eu sei como chegar neles. Já morei na rua, sei como é.”
Sim, ele é um sonhador e diz que se sente na obrigação de fazer alguma coisa para mudar o planeta. Acredita que Deus colocou a esposa na vida dele e o fez mudar de vida. Fala ainda que se sente covarde se não ajudar os outros a deixar o vício. “As pessoas só se preocupam com bens materiais. Cada um quer cuidar do que é seu. Se eu não fizer nada, quem vai fazer o que eu estou fazendo?”, questiona, com o olhar inconformado.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Infância X Tecnologia

Andar de bicicleta pelo bairro, subir em árvore, jogar bola e brincar de bonecas. Foram essas coisas que ocuparam a minha infância. Ah! Tinha o vídeo game também, mas não era minha diversão preferida.
Eu não tinha computador em casa, mas gostava de escrever na máquina de datilografia, e não podia errar porque senão tinha que jogar fora a folha e começar de novo. Aos cinco anos provavelmente ainda não sabia direito o que era celular. Lembro de ter tido um aparelho de brinquedo, daqueles grandes. O orelhão ainda era de ficha.
Hoje, e nem faz tanto tempo assim, é cada vez mais comum crianças pequenas com celulares, MP3, conversando pelo MSN e pelo Orkut.
E é sobre esse comportamento infantil adequado às novas tecnologias que a revista Veja dessa semana traz uma reportagem, cujo título é “Tudo ao mesmo tempo – e agora”.
Isso mesmo. As crianças de hoje fazem tudo ao mesmo tempo: estudam, brincam, conversam, assistem televisão, ouvem música, e por aí vai.
Mexer nos programas de computador e na Internet é com eles mesmo. Afinal, parece tão simples e normal escrever em blogs e postar vídeos no Youtube, certo?
Para a nova geração que praticamente é alfabetizada no computador, sim.
Mas acredito que é assustador para os pais. Imagino também que grande parte deles se impressiona com a facilidade dos pequenos em usar os aparelhos eletrônicos, que muitas vezes parece ser tão difícil para os adultos que viram os computadores ocupar o lugar das máquinas de escrever.
Pois é, a matéria de Sandra Brasil explica que as crianças estão cercadas de aparelhos eletrônicos e vivem na era dos estímulos constantes e simultâneos, ou seja, dão conta de falar ao telefone, assistir televisão e fazer a lição de casa ao mesmo tempo, e dividindo a atenção entre as tarefas. São as chamadas crianças multitarefas.
E isso não deixa os pequenos assustados, não. É tudo normal para eles, que desde muito cedo recebem diversos estímulos.
Mas os especialistas advertem para os problemas que toda essa tecnologia à qual os pequenos estão submetidos podem causar.
Um deles é a dificuldade de relacionamento, uma vez que a conversa pela Internet não substitui a relação pessoal.
Psicólogos garantem que é necessário que as crianças aprendam a enfrentar os medos e frustrações da vida real.
Em todo o caso, a tecnologia está presente. E cada vez mais cedo nossas crianças entram em contato com ela, aprendendo a usar os aparelhos eletrônicos como quem aprende a andar de bicicleta, como se fosse algo instintivo e natural da infância. O que não deixa de ser verdade.
Basta saber se os pais e também os professores estão dando conta de acompanhar essa evolução tecnológica e, principalmente essa mudança do comportamento infantil.

* Texto publicado também no site www.blogdacomunicacao.com.br

quinta-feira, 17 de julho de 2008

A árvore da vida

Grande, imponente e solitária no meio de um terreno marcado por uma tragédia. Uma árvore resistiu ao maior desastre da aviação brasileira e sobreviveu mesmo após uma implosão no local onde o Airbus da TAM se chocou com o prédio da empresa.
Exatamente um ano depois do acidente que matou 199 pessoas, ela está com suas folhas verdes.
Hoje familiares das vítimas se reuniram para prestar uma homenagem no local da tragédia. Fotos das pessoas que morreram foram penduradas na árvore, que ficou conhecida como árvore da vida.
No dia 17 de julho de 2007, por volta das sete e quarenta da noite, o avião não conseguiu parar, atravessou a avenida e colidiu no prédio da TAM Express.
As condições da pista não estavam favoráveis para o pouso, estava molhada. Além disso, um dos manetes estava na posição de aceleração na hora da aterrissagem.
As imagens do incêndio permanecem na memória dos brasileiros, principalmente daqueles que acompanharam a tragédia. Assim como o desespero dos amigos e familiares ao saber da tragédia.
Um ano se passou e as investigações ainda não chegaram ao fim. O relatório final da polícia que vai indicar as causas e apontar os responsáveis pela queda do vôo JJ3054 deve ficar pronto em até três meses.
Mas o delegado que acompanha o inquérito, Antônio Carlos Barbosa Menezes, adiantou que sete pessoas serão indiciadas por lesão corporal culposa e homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
O processo é complexo. São mais de quarenta mil páginas e duas mil fotografias. E já foram ouvidas 309 pessoas.
No aniversário do acidente com o Airbus da TAM, parentes se reuniram no local e, no mesmo horário que aconteceu a tragédia, fizeram um minuto de silencio.
Uma missa foi celebrada e, no saguão do aeroporto de Congonhas, houve manifestação.
Amanhã, sexta-feira, os familiares vão se reunir com autoridades para discutir sobre o andamento das investigações e com um arquiteto para falar sobre o projeto de construir um memorial para as vítimas no terreno que era ocupado pelo prédio da TAM.
O projeto está causando muitas discussões e polêmica. A prefeitura anunciou a construção de um parque, mas as famílias querem o memorial, com inscrições de todas as vítimas.
No projeto da prefeitura, seriam construídos dois muros brancos que não se tocam, para sugerir que algo se rompeu. O nome escolhido é Parque Ipê Amarelo. Para representar as vítimas, pontos com luz branca no chão.
E as homenagens continuam no fim de semana.
No sábado, ao meio dia, uma missa será celebrada na Catedral da Sé. E para o domingo, está marcado um concerto sinfônico na Sala São Paulo.
Um detalhe, que pode passar desapercebido, me chamou a atenção. Os familiares vão entrar na Catedral da Sé, no sábado, com 201 arranjos de flores. O número representa as 199 vítimas e mais dois bebês que estavam em gestação e morreram no acidente antes mesmo de nascer.
É um fim de semana de luto, homenagens e lembranças. E também de protesto. As famílias cobram que os responsáveis pelo acidente sejam punidos. Além disso, o acontecimento deve ser lembrado como um fato triste, que marcou a maior tragédia da aviação brasileira, e precisa servir de exemplo do que não deve se repetir.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Vamos tomar um café?

Ao invés do chopp gelado acompanhado por uma bela picanha ou porção de batata frita, que tal um café com porções de pão-de-queijo para o happy hour? E uma xícara de chá com biscoitos?



É... a lei pegou. O número de acidentes de trânsito e mortes causadas por motoristas embriagados caiu drasticamente e as pessoas estão com medo da já famosa blitz da Operação Direção Segura.
Sendo assim, a dita Lei Seca, ou Tolerância Zero, como preferirem, está interferindo nas reuniões de amigos nos bares durante o fim de semana, ou mesmo durante a semana, após o trabalho.
O que fazer? Deixar de sair? Afinal o bafômetro tornou-se uma assombração e inimigo número um dos bares. Acusa qualquer vestígio de álcool, e um copinho de cerveja não passa imperceptível por ele.
O jeito é buscar alternativas. Afinal, ninguém vai abrir mão de sentar em uma mesa com os amigos e bater um bom papo.
Uma sugestão é apostar nos cafés. O estabelecimento pode ser tradicional ou mais moderno, isso fica de acordo com o gosto de cada um.
A primeira impressão pode ser estranha. Mas, por causa da nova lei de trânsito que restringe o consumo de álcool, especialistas apostam no lucro e no crescimento dos estabelecimentos de café.
O pesquisador do Instituto de Economia Agrícola, ligado à Secretaria de Agricultura Estado de São Paulo, Celso Vegro, garante que a lei deve ter reflexos nos estabelecimentos especializados na bebida e também nos de alimentação, como restaurantes, lanchonetes, sorveterias.
Para o pesquisador, os brasileiros vão começar a mudar os hábitos para se adaptar à legislação. E o mercado deve se preparar para isso, inovando o cardápio, sugerindo novos drinques sem álcool e propondo novas formas para preparar e servir o cafezinho.
Mas essa mudança não será de uma hora para outra. É um processo gradual e que deve ter uma ajudinha da publicidade e um esforço de marketing.
Afinal, os apreciadores de bebidas alcoólicas precisam se acostumar com a idéia e serem convencidos a trocar o boteco com a cerveja gelada por uma xícara de café quente em uma cafeteria descontraída.


segunda-feira, 14 de julho de 2008

BEI JING HUAN YING NI!


No português, Bem-vindos a Pequim!

Isso é o que significa, quando colocadas juntas, a primeira sílaba dos nomes de cada mascote dos Jogos de Pequim, os Fuwa.
Beibei, Jingjing, Huanhuan, Yingying e Nini simbolizam os anéis olímpicos, ou seja, os cinco continentes. E foram criados para reunir e representar a arte tradicional e o folclore da China.
Pois é, conflitos a parte, esse ano as Olimpíadas acontecem na China. Falta menos de um mês para o evento, e a expectativa é grande.
Atletas do mundo todo vão se reunir para disputar trinta e cinco modalidades esportivas em um país oriental, governado por um partido comunista, que desponta como uma das maiores economias em crescimento e que tem mais de um bilhão de habitantes.
Os primeiros jogos olímpicos surgiram na Grécia, em 776 a.C., em homenagem aos mortos e ao deus Zeus. Era uma mistura de esportes com religião, culto aos deuses e à beleza. Os cidadãos livres disputavam seis modalidades de esporte e as mulheres não podiam participar da competição, que já acontecia a cada quatro anos.
Os jogos foram abolidos quando a Grécia foi dominada pelos romanos, em 393 d.C., e retomados somente no século XIX.
Em 1894, o francês barão de Coubertin organizou um congresso e criou o Comitê Olímpico Internacional. Atenas foi o local escolhido para sediar a primeira edição das Olimpíadas dos tempos modernos.
A bandeira branca com os cinco anéis foi criada em 1913, também pelo barão de Coubertin, e representa os cinco continentes que aderiram aos jogos. Pelo menos uma das cinco cores (azul, amarelo, preto, verde e vermelho) está presente na bandeia de qualquer país.
Pois é, quase três mil anos depois as Olimpíadas resistem ao tempo. E esse ano, a sede será em Pequim.
A China é um país que enfrenta grandes problemas políticos. Recentemente acompanhamos a revolta tibetana, que aconteceu em março deste ano. Antes disso, em 1989, o exército chinês reprimiu estudantes que pediam democracia na praça Paz Celestial, em Pequim.
A história do país também nos mostra o massacre sofrido durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Japão invadiu a China. Fato que repercute até os dias de hoje e causa grande tensão entre os dois países orientais.
Além disso tudo, a censura e repressão são grandes. O atual presidente, Hu Jintao, é considerado um homem muito repressivo.
O conteúdo da Internet, por exemplo, passa por censores que ficam incumbidos de tirar do ar todo conteúdo polêmico. Filmes também são submetidos à censura, sendo que muitos não podem ser exibidos e outros só vão para as telas após terem boa parte do conteúdo cortado.
Isso, sem dúvida alguma, é uma ótima oportunidade para a pirataria, que encontra espaço no mercado ilegal de CDs e DVDs.
Outro fator preocupante da China é a população. São mais de um bilhão de habitantes no país. Foi por isso que o governo adotou, na década de 70, a política de um filho por casal.
Já a economia, vai muito bem. Cresce aproximadamente dez por cento ao ano e já é considerada a terceira maior economia do mundo. Mas os reflexos disso são problemáticos. A desigualdade no país é grande, assim como a poluição.
Resultado de um crescimento desenfreado e sem muitas preocupações com o meio ambiente, na China estão dezesseis das vinte cidades mais poluídas do mundo.
Um país cheio de contrastes, que fascina e atiça a curiosidade dos turistas ocidentais. A China é repleta de histórias e tem uma rica cultura. A começar pelo idioma e pelos ideogramas, que são verdadeiras artes.
A culinária também chama a atenção dos ocidentais, e é geralmente lembrada pelas excentricidades.
Vamos agora acrescentar a todo esse cenário rico em cultura e cheio de problemas, trinta e cinco modalidades de esporte, atletas de todos os cantos do mundo e turistas de todos os países.
O resultado será visto a partir do dia oito de agosto, quando acontece a abertura oficial dos Jogos Olímpicos de 2008, na China.
Todas as atenções estarão voltadas para o evento. Turistas, atletas, imprensa, e clima de torcida e a animação do esporte no ar.
Sendo assim, Bei Jng Huan Ying Ni! Ou melhor, Bem-vindos a Pequim!


Fontes:
* Texto publicado também no Blog da Comunicação, dia 13-07-2008.
(
www.blogdacomunicacao.com.br)

terça-feira, 8 de julho de 2008

Que polícia é essa?

“Eles não tiveram piedade, eles não tiveram pena, eles vieram para executar. Que polícia é essa?”.
Foi o que disse o pai do menino João Roberto. O garoto ia completar quatro anos no próximo dia vinte e nove, e os pais dele já pensavam nos preparativos para a festa de aniversário.
A vida do menino foi interrompida de modo cruel e violento, e ele morreu depois de ser baleado por dois tiros que saíram das armas de policiais do Rio de Janeiro.
Os policiais disseram que o carro onde estava João Roberto, a mãe dele e o irmãozinho de nove meses, ficou no meio do fogo cruzado, durante uma perseguição a bandidos.
O secretario de segurança, José Mariano Beltrame, lamentou o ocorrido, pediu desculpas, reconheceu que a polícia está mal preparada e que os policiais confundiram o carro da família com o dos criminosos.
O fato é que a criança de três anos, que estava no carro com a mãe e o irmão, morreu após levar um tiro na cabeça. No carro, ficaram as marcas de pelo menos quinze tiros.
O pai do menino, revoltado e indignado, que acabava de perder o filho, conversou com a imprensa e, em desespero, criticou os policiais e disse que eles atiraram para executar.
No domingo, a família voltava para casa após uma festa. A mãe viu um carro passando em alta velocidade e, logo depois, a viatura. Encostou para dar passagem. O que ninguém poderia esperar é que a viatura parou também, dois policiais desceram do carro e descarregaram as armas contra o veículo onde estavam uma mulher e duas crianças pequenas.
Testemunhas confirmam a versão da mãe, e afirmam que eles atiraram para matar.
Desesperada, a mãe jogou a bolsa do bebê pela janela, numa tentativa de mostrar aos policiais que havia crianças dentro do carro, abriu a porta e se lançou para fora, na tentativa de salvar os filhos.
O pai de João Roberto disse ainda que a esposa dele mandou o filho mais velho deitar no chão do carro. E o menino, na ingenuidade de uma criança, ainda teve tempo de perguntar “por que, mãe?”.
Essas, provavelmente, foram as últimas palavras do menino.
A Secretaria de Segurança do Rio classificou a ação como “desastrosa”, e o secretário falou que falta para a polícia “preparo e critério na hora de agir”. Pediu desculpas e disse que o governador está “constrangido”.
Pedido de desculpa não serve para quem viu o filho de três anos ser baleado na cabeça, e é muito pouco para confortar as pessoas que têm medo de sair às ruas e que não confia na polícia.
Constrangidos devem estar os policiais honestos, que nessas horas provavelmente se envergonham da profissão.
Realmente, é lamentável a morte violenta de uma criança, cujos autores foram aqueles que deveriam ser responsáveis pela segurança da população. Lamentável também é a ação da polícia e da política que contribuem para essa violência que já se tornou rotineira no Rio.
É muito triste, revoltante e assustadora a situação.
Crimes cujas vítimas são crianças causam uma comoção pública muito grande e mexem com o sentimento das pessoas. Quantas crianças ainda vão ter que morrer? Até quando isso vai acontecer?
Infelizmente isso acontece diariamente, não só no Rio. E, sendo no Rio, muitos outros inocentes morrem nos morros e favelas, mas a tragédia só se torna pública quando acontece no asfalto, principalmente quando atinge a classe média. Mas parece que nada muda e assassinatos como esse voltam a acontecer.
O caso do menino João Roberto é mais um sinal do fracasso desse governo no combate à violência.
Confesso que fiquei arrepiada ao ouvir a declaração desse pai, e não consigo imaginar o que passou pela cabeça da mãe e das testemunhas que viram o momento em que dois policiais metralharam o carro onde estava uma mulher e duas crianças.
Carro este que parou no acostamento para dar passagem para a viatura continuar a perseguição policial que estava fazendo. Mas o desfecho da história foi mais trágico do que se podia imaginar.

domingo, 6 de julho de 2008

NÃO DÁ PRA FALAR DE OUTRA COISA.

Abraços, choro e sorrisos emocionados. O reencontro entre mãe e filhos, após mais de seis anos separados, foi transmitido por canais de televisão de todo o mundo, que parou e se emocionou ao acompanhar as imagens da tão esperada libertação da ex-candidata à presidência da Colômbia, Ingrid Betancourt, que havia sido seqüestrada pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia em 2002, quando estava em plena campanha eleitoral para disputar a presidência do país.
O assunto tomou conta das conversas e ganhou espaço de destaque em toda a imprensa. Todos os telejornais exibiram as imagens e todos os jornais impressos e revistas da semana trouxeram a foto de Ingrid em destaque. Classificado como fato histórico e, sem dúvida, será.
Em uma operação muito bem planejada e sem que nenhum tiro fosse disparado (outro fator que chamou atenção), soldados do Exército Colombiano se disfarçaram de rebeldes e o resultado, satisfatório, foi classificado como “vitória da vida e da liberdade”. Foi essa ação militar, no dia dois de julho, que conseguiu resgatar Ingrid Betancourt e mais catorze reféns e prender dois guerrilheiros das Farc.
Em entrevista, Ingrid falou sobre a operação, a qual classificou de “impecável”, e disse que naquele dia tinha acordado cedo e achou que seria transportada para outro acampamento na selva. Contou sobre os dias no cativeiro, o tempo que passou acorrentada e as humilhações às quais era submetida.
Disse também sobre a felicidade ao reencontrar os filhos e afirmou que ainda não sabe o que vai fazer daqui pra frente, chegou até a ser questionada sobre uma possível candidatura ao governo, mas garantiu que de imediato pretende apenas se empenhar e lutar pela libertação dos outros reféns, tanto os da Colômbia como os de outras partes do mundo.
Diante disso tudo, acredito que não teve quem não se perguntou de onde essa mulher tirou forças para viver e como ela conseguiu sobreviver esse tempo todo no meio da mata, em poder de revolucionários guerrilheiros e vendo, a cada dia, companheiros de cativeiros adoecendo e morrendo.
Podemos também observar e destacar o empenho em enfraquecer as Farc e libertar os reféns. Empenho este que, de certa forma, mobilizou representantes de países de todo o mundo. Uma questão política que, na minha opinião, se estendeu à questão humanitária e abstraiu os limites dos interesses individuais de cada autoridade, como se os unissem em um interesse comum.
Os discursos vieram de diversos lugares, de vários presidentes. No geral, a ação foi classificada como uma vitória, a democracia e a liberdade foram citadas.
O venezuelano Hugo Chávez se disse feliz com a libertação e surpreendeu ao elogiar o presidente colombiano Álvaro Uribe pelo sucesso da operação. Este, por sua vez, comparou o resgate às maiores vitórias da humanidade e disse que continuará empenhado em libertar os outros reféns. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, foi pessoalmente recepcionar Ingrid no aeroporto para dar-lhe as boas vindas, e afirmou que a libertação dela é um sinal de esperança. Aqui no Brasil, Lula disse que a democracia reina na América Latina e, por isso, não há motivos para se chegar ao poder através da luta armada.
E as Farc, ao que tudo indica, está a cada dia perdendo força. Quem definiu bem isso foi o ministro do Interior da Colômbia, Fabio Valencia, para ele “é evidente a derrota política, não só porque o grupo foi declarado terrorista no mundo inteiro, mas também por haver recebido golpes contundentes das Forças Armadas”.
Agora, nos resta acompanhar os desdobramentos do caso e como será, daqui pra frente a luta para resgatar os mais de setecentos reféns que ainda estão em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

* Mais informações no site da BBC Brasil: http://www.bbc.co.uk/portuguese/

* Texto publicado também no Blog da Comunicação: http://www.blogdacomunicacao.com.br/

sábado, 5 de julho de 2008

Música e Literatura...

“...andam de mãos dadas desde que o mundo é mundo.” É assim que foi descrito o 39º Festival de Inverno de Campos de Jordão no site oficial do evento, que começou hoje com a abertura da Orquestra Sinfônica de São Paulo.
Considerado o maior evento de música clássica da América Latina, este ano o Festival de Inverno terá, durante vinte e três dias, cinqüenta espetáculos, sendo vinte e quatro concertos gratuitos.
A literatura também faz parte do tema e vai estar presente nas obras musicais que foram inspiradas em textos de Shakespeare, Dante, Voltaire, Cervantes, José de Alencar, Nietzsche, Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, entre outros.
A cidade, localizada na Serra da Mantiqueira, a 167 quilômetros de São Paulo, é famosa pelo clima frio e atrai muitos turistas durante a estação. Turistas que já conhecem o tradicional Festival de Inverno e prestigiam as apresentações que acontecem, gratuitamente, na Praça do Capivari.
O Festival Internacional é um atrativo também para os estudantes de música e os artistas de toda a América Latina, que se encontram em Campos do Jordão durante o mês de julho e observam as apresentações com olhares técnicos e profissionais.

Enquanto isso, no litoral fluminense...

....acontece a Festa Literária Internacional de Paraty , a FLIP, entre os dias dois e seis de julho. Esta é a sexta edição do evento, que reúne autores e grandes nomes da literatura de todo o mundo e já é reconhecida internacionalmente.
Assim como o Festival de Inverno, a FLIP acontece em uma cidade que também é muito conhecida e procurada pelos turistas, a diferença do clima é grande, já que Paraty fica no litoral do Rio de Janeiro, mas ambas são aconchegantes, com arquiteturas belíssimas e cheias de histórias.
A FLIP homenageia, a cada ano, um escritor brasileiro e, este ano é a vez de Machado de Assis. Aliás, 2008 é o ano do centenário do autor, que também será lembrado em Campos do Jordão com a Orquestra Acadêmica, que vai estrear Capitu, inspirada no romance Dom Casmurro.
A música também está presente na Festa Literária de Paraty. No caso, é a vez da música brasileira, com a presença de Chico Buarque, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, entre outros.
Os jovens e as crianças não foram esquecidos, e na festa há atrações para eles, como oficinas para os aspirantes a escritor e palestras.

Pode ser em uma cidade litorânea ou serrana, a cultura está presente nos eventos que acontecem quase simultaneamente em duas cidades charmosas, aconchegantes, agradáveis e com lindas paisagens.
E, de fato, podemos observar que a literatura e a música andam juntas e se complementam.


*Saiba mais sobre o Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão no site do evento: www.festivalcamposdojordao.org.br
* Outras informações sobre a Festa Literária Internacional de Paraty podem ser encontradas no site: www.flip.org.br

sexta-feira, 4 de julho de 2008

A PANE NO SISTEMA. *

* (texto escrito no dia que não consegui acessar a Internet para publicá-lo no blog!)

APAGÃO e PANE. Foi dessa forma que os meios de comunicação definiram o problema no sistema de transmissão de dados da Telefônica, que deixou metade dos clientes sem conexão e causou transtornos e prejuízos, prejudicando lan houses, residências, órgãos públicos e grandes empresas da maior cidade do país, nesta quinta-feira, dia três de julho.
As delegacias da capital paulista pararam – e não foi por falta de ocorrências, infelizmente. A queda do sistema impediu os delegados de registrarem os boletins de ocorrência. Sendo assim, quem ia até o DP era aconselhado a voltar depois; já nos casos de flagrante, a espera foi necessária (no caso, espera por tempo indeterminado).
Os postos de atendimento do Poupatempo também foram prejudicados. Quem pretendia ou precisava usar os serviços oferecidos, como renovar ou tirar documentos, não foi atendido.
Nas lotéricas não foi possível apostar na sorte e nem efetuar pagamentos; nas residências, quem usa o serviço de Internet da Telefônica também não obteve sucesso ao tentar acessar a rede.
O problema começou, segundo a própria empresa, na tarde do dia anterior (na quarta-feira). Enquanto o problema persistia, não se sabia exatamente os motivos da pane e nem o tempo necessário para tudo voltar ao normal.
Milhares de pessoas entraram em contato com o Procon e, sendo assim, a Telefônica foi notificada e deve informar, em um prazo de vinte e quatro horas, quantos clientes foram afetados e quais os motivos da pane. Deve também apresentar uma proposta de como ressarcir o consumidor pelo horário em que ele não pôde usar a internet.
Em nota à imprensa, divulgada à tarde, a Telefônica disse que iria descobrir as causas do problema e solucioná-lo até o final da noite.
E assim foi. A empresa informou que o sistema foi restabelecido, ou melhor, que oitenta por cento da rede tinha sido restabelecida às oito e meia da noite.
Explicações? Segue um trecho da nota enviada à imprensa: "Trata-se de um evento técnico complexo e raro, que vem exigindo o trabalho ininterrupto de toda a equipe de técnicos e engenheiros da operadora, além de especialistas internacionais vinculados aos fabricantes dos equipamentos."
Bom, foram aproximadamente vinte e quatro horas sem acesso à internet.
Num passado não muito distante, a hoje popular Internet era algo quase desconhecido da população, não fazia falta e ainda estava engatinhando no mercado, para muitos parecia algo extremamente futurista. Pois é, o futuro chegou rapidamente, e hoje a Internet já faz parte da vida das pessoas, direta ou indiretamente, e as torna dependentes.
Tanto faz parte da rotina que um dia, ou mesmo algumas horas, sem acesso à rede, podem causar todos esses prejuízos e transtornos.
Foi o dia do apagão, o dia que a Internet parou em São Paulo!

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Restrições no trânsito de São Paulo.

Começaram a valer hoje as novas medidas de restrição à circulação de caminhões na cidade de São Paulo. E como já era de se esperar, começou com confusão e protestos da categoria, que parou o trânsito da capital.
Cerca de trinta caminhões iniciaram uma manifestação e ocuparam uma pista da Marginal do Pinheiros, por volta da uma e meia da tarde de hoje. E as conseqüências foram mais complicações e reflexos no trânsito da cidade durante todo o dia. O número de manifestantes aumentou, chegando a sessenta veículos, e eles seguiram pelas marginais de São Paulo, concentrando-se, às cinco horas da tarde, na pista de acesso ao Anhembi.
As novas medidas foram tomadas para tentar controlar, ou minimizar, o caos do trânsito em São Paulo, e anunciadas na última sexta-feira pelo prefeito Gilberto Kassab e pelo secretário geral de Transportes, Alexandre de Moraes.
Sendo assim, a partir de hoje, caminhões de médio e grande porte estão proibidos de transitar entre às cinco horas da manhã e às nove horas da noite, de segunda a sexta-feira, e das dez da manhã às duas da tarde aos sábados. Os caminhões de pequeno porte entram em um novo sistema de rodízio de placas, ou seja, os de placa par só circulam nos dias pares, e vice-versa. Além de seguir as regras do já conhecido rodízio de veículos.
Essas restrições são adotadas em uma área de cem quilômetros quadrados no centro expandido, a chamada Zona Máxima de Restrição de Circulação.
A fiscalização fica por conta da CET, que organizou um esquema para evitar que os motoristas tentem driblar e fugir das novas regras.
A regra tem exceções. Alguns veículos como os caminhões que prestam serviços de urgência, os de socorro mecânico de emergência, cobertura jornalística, correios, entre outros não estão sujeitos às penalidades.
O secretário municipal de Transportes, Alexandre de Moraes, estima uma melhora entre catorze e dezessete por cento no fluxo do trânsito, o que representa oitenta e cinco mil caminhões a menos nas ruas da capital. Número significativo para uma cidade que já registrou o recorde de 266 km de congestionamento.
Vale lembrar que a medida tem o objetivo de restringir a circulação dos caminhões em alguns horários e em algumas áreas de São Paulo, que já é uma cidade caracterizada e conhecida pelas filas imensas de congestionamento, pelos acidentes de trânsito e pelas ruas que já não suportam mais a frota de seis milhões de veículos.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Tolerância Zero!

Agora é lei. E autoridades dizem que vai valer: não pode mais dirigir após beber. E agora não pode mesmo! A tolerância é zero! O famoso teste do bafômetro será mais rígido e os motoristas serão punidos caso seja constatado algum vestígio de álcool, por menor que seja.
O decreto não é claro, e está causando muitas discussões.
É fato, e indiscutível, que bebidas alcoólicas e direção não combinam, e que juntas podem causar graves acidentes. O número de pessoas, principalmente jovens, que sofrem acidentes de trânsito por dirigirem alcoolizados é enorme, e muitos morrem em decorrência disso.
Obviamente, a fiscalização precisa ser mais rígida e intensificada. Mas com bom senso, é claro!
Um copo de cerveja, uma dose de algum destilado, ou mesmo uma taça de vinho demoram uma hora para serem absorvidos pelo organismo e, sendo assim, o aparelho detecta a ingestão de álcool.
Foi no mínimo curiosa a reportagem de Eleonora Pascoal, da TV Bandeirantes, na qual ela se submeteu ao teste do bafômetro após comer uma sobremesa de papaya com licor de cassis. E o mais incrível: o aparelho acusou que ela havia ingerido álcool. Logo depois, ao beber um copo de água após comer o bombom de licor, nada foi apontado.
Hoje, Chico Pinheiro e Carla Vilhena, da Rede Globo, entrevistaram o major Ricardo de Barros, do 34º Batalhão da Polícia Militar, durante o SPTV 1ª Edição. O entrevistado, ao falar da rigidez e fiscalização da lei, contou que na cidade de São Paulo existem quinze bafômetros.
Diante do tamanho da cidade, Chico Pinheiro perguntou se o número não é insuficiente. O major da PM, tentando se explicar, disse que não, pois muitas pessoas são submetidas ao teste, no mesmo aparelho, em uma mesma noite. Quantas pessoas? A resposta foi vinte carros em sessenta locais diferentes.
Multiplicando...sessenta lugares, vinte motoristas em cada local... chegamos a mil e duzentas pessoas. Não me parece suficiente para uma cidade que atingiu a marca de seis milhões de veículos. Por mais que, no mesmo dia, os quinze bafômetros existentes em São Paulo sejam usados para fiscalizar esses mil e duzentos motoristas, o número chega a dezoito mil.
Embora seja necessária a fiscalização ser mais rígida, o assunto precisa ser estudado e a lei elaborada de maneira sensata, para que seja aplicada de modo eficaz. Caso contrário, será um pretexto para aplicar multas, e não cumprirá o papel que, teoricamente, deve cumprir, que é o de atuar na fiscalização para evitar acidentes caudados por pessoas que estão, de fato, embriagadas.
Isso me faz lembrar da lei que tornou obrigatório um kit de primeiros socorros em todos os veículos, em 1999. A exigência foi criticada em todo o país e tida como uma fábrica de dinheiro. O kit se tornou obrigatório, mas os motoristas não estavam preparados para realizar esse primeiro atendimento. Três meses depois, a lei foi derrubada.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Morte de bebês em Belém do Pará.

Doze recém nascidos morreram neste final de semana, entre sexta-feira e domingo, na Santa Casa de Misericórdia de Belém, na região norte do país.
O mais chocante dessa história é a posição do hospital, que disse em nota que os bebês eram prematuros ou então tinham problemas sérios de saúde, e que em momento algum as mortes foram causadas por erro médico ou problemas estruturais.
Ou seja, é como dizer que a morte desses doze bebês em um mesmo fim de semana é decorrente dos problemas que essas crianças tinham. Como se já estivessem condenadas à morte.
Os prontuários médicos serão analisados e o hospital investigado, já que o Sindicato dos Médicos de Belém denunciou as mortes e afirma que a Santa Casa não tem uma estrutura adequada, além da superlotação na unidade.
Na nota divulgada à imprensa, o hospital busca uma série de explicações (inaceitáveis, diante da situação). Uma delas é dizer que a mortalidade está de acordo com a taxa aceita pela Organização Mundial de Saúde.
É muita coincidência doze crianças morreram em dois dias no mesmo hospital, hospital esse que afirma veementemente que não tem culpa e que eram bebês que, em alguns casos, não tinham muitas chances de vida.
Curioso seria se doze bebês morressem no mesmo fim de semana em um hospital particular de São Paulo, por exemplo. Mas como isso aconteceu em um hospital público de Belém do Pará...

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Desigualdade diminui.

Foi publicado hoje no site da BBC Brasil, o resultado de um estudo realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre a desigualdade dos salários no Brasil. E o que a pesquisa apontou foi uma redução: a diferença entre ricos e pobres caiu quase sete por cento no período entre o quarto trimestre de 2002 e o primeiro de 2008.
Segundo o presidente do Instituto, Marcio Pochmann, isso foi possível graças ao crescimento econômico aliado às políticas sociais.
Não é de hoje que se fala em educação como fator primordial para mudanças sociais e, por conseqüência, econômicas. E também não é novidade relacionar a educação – ou melhor, a falta da escolaridade – à escassez de oportunidades, ao desemprego, e mesmo à criminalidade.
"Geralmente aqueles que têm melhor escolaridade tendem a ter melhores resultados, [...]. O crescimento cria um ambiente favorável, mas por si só não garante melhor distribuição intersalarial", disse Pochmann.
Ou seja, a diminuição da diferença salarial fica ameaçada pelas altas taxas de juros e pela inflação.
Segundo o presidente do Ipea, para manter essa queda na desigualdade são necessárias mudanças no “padrão tributário” do Brasil, uma vez que o grande número de impostos indiretos faz com que a população mais pobre acabe pagando, nas devidas proporções, mais taxas do que os ricos.

sábado, 21 de junho de 2008

Onde há fumaça há fogo? Mas será mesmo que é fumaça?

“Um avião cai em prédio comercial na zona sul de São Paulo”. Essa foi a informação dada por alguns meios de comunicação no dia 20 de maio passado. Um dos princípios do jornalismo: checar, apurar, para só então divulgar. Pois é, parece que não foi exatamente isso que aconteceu naquela terça-feira.
Eram cinco horas da tarde quando o Corpo de Bombeiros deslocou viaturas para combater as chamas de um incêndio que atingia uma loja de colchões, próxima da avenida Santo Amaro. Mas isso só foi dito minutos depois pelas emissoras que corrigiram o erro (de modo quase imperceptível) e por outra que entrou no ar com a informação correta.
Enquanto as imagens do fogo eram transmitidas, sites e duas emissoras de televisão narravam o fato afirmando que se tratava de um acidente aéreo, o que, se tivesse realmente acontecido, provavelmente teria deixado muitas vítimas, já que quedas de aeronaves são geralmente trágicas.
Ao “descobrir” que estavam divulgando informações erradas, os ditos jornalistas simplesmente mudaram o discurso e começaram a noticiar o que de fato estava acontecendo naquela tarde. São nesses momentos que podemos parar para refletir sobre o jornalismo e toda aquela história que caracteriza a profissão: credibilidade, informação correta e bem apurada. O motivo do... digamos, engano? A pressa em dar a notícia primeiro, com exclusividade, e a ânsia em dar o furo jornalístico.
Enquanto a suposta queda de avião era transmitida por outras emissoras, editores, chefes de reportagens, pauteiros e toda a redação se perguntavam o que estava acontecendo. A resposta? Era um incêndio em uma loja! Ninguém confirmava a queda de um avião!
Onde fica a responsabilidade da imprensa nessas horas? Quantas pessoas que viram aquilo não se assustaram e lembraram do trágico vôo da TAM, que caiu no ano passado em São Paulo, marcando a maior tragédia da aviação brasileira? Quantos brasileiros entraram em pânico, pensando que aquele poderia ser o vôo onde estavam seus parentes e amigos? Ou, então, quantas pessoas se desesperaram tentando saber se aquele prédio atingido não seria o mesmo onde trabalham ou moram pessoas queridas?
Nas faculdades de jornalismo, e mesmo nas redações de televisões, rádios e jornais, sempre ouvimos a importância de uma boa apuração, a necessidade de checar, de conversar com as fontes, de perguntar o que está acontecendo e confirmar com mais de uma fonte. E isso é, indiscutivelmente, indispensável.
O jornalismo é tido por muitos como o “quarto poder”, e, de fato, tem um poder enorme sobre a população, pois é através dele que somos informados, que somos inseridos na sociedade e que podemos conhecer o mundo e a atualidade diante das telas e páginas de jornais e revistas.
O jornalismo, ao mesmo tempo em que é uma profissão que traz enorme satisfação a quem o faz, traz também muita responsabilidade. O jornalista sente que não pode errar e dizer o que não corresponde à realidade. É difícil escrever “erramos”, e isso, no Brasil, geralmente é escrito de modo discreto, sem muito alarde e com letras pequenas.
Daí a necessidade em refletir sobre a ética da profissão e a linha adotada por cada empresa, que deveria seguir, como regra, o princípio de somente informar depois de checar e apurar bem o fato.
Situações como essas deveriam servir de exemplo para os profissionais que têm de ter em mente a responsabilidade que carregam nas costas e as conseqüências que as notícias transmitidas exercem sobre a população.


* Matéria publicada dia 21-05-08 no Momento Online ( jornal eletrônico do curso de Comunicação Social da Fiam)
http://www.fiamfaam.br/mol/ler.asp?id_news=1081&cont=LerMateria

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Professores em greve.

Tenho o costume de observar as pessoas na rua e ouvir o que elas conversam, dependendo do assunto, presto atenção. No início dessa semana estava no ônibus, a caminho do trabalho, quando ouvi uma mulher conversar com o filho pelo telefone. Ela dizia: “mas por que os professores estão em greve?”.
Não sei qual foi a resposta do outro lado da linha. Poucos minutos depois, ela desligou o celular.
Logo pensei que este seria o assunto da semana, embora, na minha opinião, merecesse mais destaque na imprensa, já que atinge todo o estado de São Paulo e, segundo a Associação dos professores, setenta por cento das escolas aderiram à paralisação.
Hoje completa uma semana que foi anunciada a greve dos professores da rede estadual. A Apeoesp não aceitou os doze por cento de reajuste salarial propostos pela Secretaria de Educação, sendo assim, a greve continua pelo menos até o próximo dia vinte e sete, quando será realizada mais uma assembléia.
Enquanto isso, os professores se reúnem em assembléias e passeatas. Nesta tarde, aproximadamente cinco mil pessoas fecharam a Avenida Paulista; na semana passada, este número chegou a dez mil.
No entanto, o número de manifestantes no protesto de hoje foi controverso: enquanto a Polícia Militar informou cinco mil, o sindicato afirma que chegou a reunir sessenta mil pessoas. Uma diferença muito significativa!
A Associação dos professores do estado de São Paulo informou que, além do reajuste salarial, a categoria exige a revogação do decreto 53.037/08, que impõe restrições à transferência de escola e cria a avaliação de desempenho para temporários.
Enfim... a greve continua.
E como estão os alunos da rede estadual? Aulas interrompidas no final do semestre. E até que seja feito um acordo, a situação continuará assim... Volta às aulas? Talvez no período de férias...

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Um crime. Uma morte e dois suspeitos previamente condenados.

Dia 29 de março de 2008. Uma criança morreu. Foi jogada da janela do sexto andar do edifício onde passava os fins de semana com o pai, a madrasta e dois irmãos menores. Nas palavras da delegada, foi assassinada de modo cruel.
A imprensa toda fez plantão na porta da delegacia que investiga o caso, na casa da mãe da menina, na casa dos avôs da criança, local onde o pai e a madrasta passaram alguns dias, na frente das penitenciárias para onde o casal foi levado.
Cenário de filme, câmeras e luzes a postos para pegar o melhor ângulo dos vilões, sucesso de bilheteria. Ou melhor, de audiência.
Quem matou Isabella?
Os acusados pela morte da menina de cinco anos são o próprio pai, Alexandre Nardoni, e a esposa dele, Anna Carolina Jatobá. Segundo a polícia, as evidências são claras. Os advogados de defesa do casal negam que os clientes tenham culpa e afirmam que um ladrão teria invadido o apartamento. Dizem ainda que as provas apontadas pela polícia e que os laudos do Instituto Médico Legal são frágeis, e contratam profissionais para apontar essas falhas da perícia.
A grande questão de toda essa história deixou de ser simplesmente o crime e sua solução. As pesssoas se envolveram a ponto de acompanhar passo a passo as investigações através da imprensa, que não perde nenhum detalhe. Isabella tornou-se muito próxima de cada telespectador, tornou-se uma criança pela qual as pessoas choram e lutam por justiça. É como se fosse um símbolo. Situação semelhante com o caso do menino João Hélio, que morreu após ser arrastado por quilômetros pelas ruas do Rio de Janeiro.
Todos acompanham atentos as entrevistas dos envolvidos no crime que matou Isabella. O pai, a madrasta, a mãe, o tio, o avô - todos mostram a cara e falam com os jornalistas.
O crime tornou uma história parecida com os filmes e novelas: qual será o próximo passo?
Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foram indiciados, tiveram a prisão preventiva decretada, foram presos e transferidos para penitenciárias no interior do estado, além disso, dois pedidos de habeas corpus já foram negados e os advogados estudam novas táticas de defesa e afirmam a inocência de seus clientes.
Esta semana a justiça ouve o depoimento das testemunhas. Hoje foi a vez da mãe de Isabella, que afirmou acreditar no envolvimento de Alexandre e Anna Carolina no crime. Vizinhos também foram ouvidos, a avó materna da criança...e por aí vai.
Pessoas serão ouvidas novamente, novas testemunhas devem ser apresentadas e o casal acusado acompanha os depoimentos na presença dos advogados, que negam insistentemente a participação de seus clientes no crime.
Durante os depoimentos, surgem novas declarações. E mais uma vez, a polêmica: Pietro, o irmãozinho de Isabella que tem apenas três anos de idade, deve ser interrogado? Talvez ele seja a única pessoa que realmente presenciou os últimos minutos de Isabella. Seriam dele os gritos de “pára pai!” ouvidos pelos vizinhos? Pietro teria visto Anna Crolina estrangular a menina? A justiça brasileira está preparada para interrogar uma criança tão pequena? E este garoto, de três anos, consegue dizer e lembrar o que de fato aconteceu naquela noite do dia vinte e nove de março?
Já se passaram quase três meses que Isabella morreu e o caso ainda não foi esclarecido. A imprensa e a população acompanham atentos cada novidade e ainda fazem os mesmos questionamentos.
Quem matou Isabella? Como a menina morreu? E qual foi o motivo do crime? Ciúmes?
São todas as questões que, ao mesmo tempo que já foram respondidas pela polícia, pelo promotor, pela perícia até mesmo pela população, ainda geram dúvidas e controvérsias. São versões que não se encaixam, fatos novos que surgem, perito contratado para pôr em dúvida os laudos do IML,
Afinal, um pai teria coragem de matar a própria filha?

terça-feira, 17 de junho de 2008

O APERTO DE CADA DIA

Como as pessoas conseguem viver e sobreviver em situações de caos, de tumulto, de “aperto”?
Acabo de assistir ao “Profissão Repórter” e esta semana Caco Barcellos e sua equipe trouxeram matérias sobre pessoas que vivem em espaços cheios. Foram abordadas situações diferentes, como um jogo entre Corinthians e Botafogo no Morumbi, pessoas que vivem em cortiços de Santos e gente que enfrenta o metrô cheio diariamente. E o que mais me chamou a atenção foi a particularidade de cada caso.
Ir a um estádio para assistir um jogo é uma escolha individual, de quem sabe qual é a situação que vai encontrar e mesmo assim vai até o local pelo prazer que sente em torcer pelo time. No caso exibido durante o programa, a reportagem mostrou torcedores que enfrentaram doze horas de viagem em ônibus lotados até chegar no local da partida.
Diferente disso é a situação pela qual milhares de pessoas passam diariamente no transporte público de grandes cidades, como São Paulo. E é no metrô da capital paulista que podemos observar a pressa, o cansaço, a correria e a irritação das pessoas, que, em muitos casos, enfrentam horas para chegar do trabalho até em casa e precisam pegar mais de uma condução.
E isso é fácil observar. Basta ir até uma estação de metrô ou até um terminal rodoviário que conseguimos ver a expressão das pessoas que passam por ali. É como se cada um estivesse em seu mundo particular, ninguém cumprimenta ninguém, todos estão correndo e pensando nos próprios problemas, poucas pessoas conversam com a que está sentada ao lado e, em geral, não sabem o que existe naquele imóvel localizado na frente do ponto de ônibus.
É a correria do dia a dia de uma grande metrópole que nos impede de olhar ao redor, de observar as coisas e conversar com as pessoas. E isso é algo que acontece rotineiramente, mas sequer percebemos.
Mas de todos os casos mostrados nesta edição do “Profissão Repórter”, o que mais me deixou curiosa foi o dos cortiços do centro histórico de Santos. São casarões antigos onde várias pessoas moram, ou melhor, se aglomeram. A reportagem mostrou um banheiro que é usado por cinqüenta moradores do cortiço e a pia e o tanque são revezados entre eles.
Fico imaginado como é o dia a dia neste local, como é a vida dos idosos e das crianças que vivem lá, quais são os cuidados com a higiene...
Na minha opinião, fica muito clara a diferença em cada situação apontada e, neste caso especificamente, a situação do “aperto” é constante e refletida na vida e no cotidiano de quem vive em um local sem espaço.
Enquanto o tumulto em uma partida de futebol é opcional e o aperto no metrô é passageiro, o sufoco dentro da própria casa é constante, é como se aquelas pessoas não tivessem escolha. É a casa delas e faz parte da rotina.
De modo mais abrangente, isso retrata o espaço reduzido ao qual somos submetidos em situações diversas, mas, e o mais importante, retrata a vida de um país, uma vez que pessoas são obrigadas a viver em situações precárias, sem higiene, sem ventilação, sem “respiração”. Enquanto a falta de espaço é observada no metrô cheio, é também notada no trânsito que bate recorde a cada mês, nos eventos que as pessoas vão por opção (incluindo jogos e festas), nas escolas e creches cheias que não tem vagas e nos cortiços que abrigam várias famílias em um mesmo espaço.
Contraditório e curioso...