“Um avião cai em prédio comercial na zona sul de São Paulo”. Essa foi a informação dada por alguns meios de comunicação no dia 20 de maio passado. Um dos princípios do jornalismo: checar, apurar, para só então divulgar. Pois é, parece que não foi exatamente isso que aconteceu naquela terça-feira.
Eram cinco horas da tarde quando o Corpo de Bombeiros deslocou viaturas para combater as chamas de um incêndio que atingia uma loja de colchões, próxima da avenida Santo Amaro. Mas isso só foi dito minutos depois pelas emissoras que corrigiram o erro (de modo quase imperceptível) e por outra que entrou no ar com a informação correta.
Enquanto as imagens do fogo eram transmitidas, sites e duas emissoras de televisão narravam o fato afirmando que se tratava de um acidente aéreo, o que, se tivesse realmente acontecido, provavelmente teria deixado muitas vítimas, já que quedas de aeronaves são geralmente trágicas.
Ao “descobrir” que estavam divulgando informações erradas, os ditos jornalistas simplesmente mudaram o discurso e começaram a noticiar o que de fato estava acontecendo naquela tarde. São nesses momentos que podemos parar para refletir sobre o jornalismo e toda aquela história que caracteriza a profissão: credibilidade, informação correta e bem apurada. O motivo do... digamos, engano? A pressa em dar a notícia primeiro, com exclusividade, e a ânsia em dar o furo jornalístico.
Enquanto a suposta queda de avião era transmitida por outras emissoras, editores, chefes de reportagens, pauteiros e toda a redação se perguntavam o que estava acontecendo. A resposta? Era um incêndio em uma loja! Ninguém confirmava a queda de um avião!
Onde fica a responsabilidade da imprensa nessas horas? Quantas pessoas que viram aquilo não se assustaram e lembraram do trágico vôo da TAM, que caiu no ano passado em São Paulo, marcando a maior tragédia da aviação brasileira? Quantos brasileiros entraram em pânico, pensando que aquele poderia ser o vôo onde estavam seus parentes e amigos? Ou, então, quantas pessoas se desesperaram tentando saber se aquele prédio atingido não seria o mesmo onde trabalham ou moram pessoas queridas?
Nas faculdades de jornalismo, e mesmo nas redações de televisões, rádios e jornais, sempre ouvimos a importância de uma boa apuração, a necessidade de checar, de conversar com as fontes, de perguntar o que está acontecendo e confirmar com mais de uma fonte. E isso é, indiscutivelmente, indispensável.
O jornalismo é tido por muitos como o “quarto poder”, e, de fato, tem um poder enorme sobre a população, pois é através dele que somos informados, que somos inseridos na sociedade e que podemos conhecer o mundo e a atualidade diante das telas e páginas de jornais e revistas.
O jornalismo, ao mesmo tempo em que é uma profissão que traz enorme satisfação a quem o faz, traz também muita responsabilidade. O jornalista sente que não pode errar e dizer o que não corresponde à realidade. É difícil escrever “erramos”, e isso, no Brasil, geralmente é escrito de modo discreto, sem muito alarde e com letras pequenas.
Daí a necessidade em refletir sobre a ética da profissão e a linha adotada por cada empresa, que deveria seguir, como regra, o princípio de somente informar depois de checar e apurar bem o fato.
Situações como essas deveriam servir de exemplo para os profissionais que têm de ter em mente a responsabilidade que carregam nas costas e as conseqüências que as notícias transmitidas exercem sobre a população.
* Matéria publicada dia 21-05-08 no Momento Online ( jornal eletrônico do curso de Comunicação Social da Fiam)
http://www.fiamfaam.br/mol/ler.asp?id_news=1081&cont=LerMateria
3 comentários:
E o coitado do escuta tomou um pé no traseiro e nem uma notinha teve......rsrsrsrsrs.... Mas com certeza a responsabilidade por aquilo foi do produtor, que também foi para a rua no mês passado....cadê a experiência daquela pessoa que passou 4 anos na faculdade e mais alguns na vida jornalística?.....
Ná, excelente o texto. Atual, de interesse público, incisivo e objetivo, direto ao ponto.
Gostei muito dos outros textos também.
É muito bom poder acompanhar seu crescimento, agora como profissional, mesmo que via blog.
Você tem talento.
Um beijo com muito carinho.
Lê
Pois é Eliezer, também questiono muito a responsabilidade dos jornalistas, principalmente em casos como esse. Sem dúvida precisamos tomar muito cuidado com as informações que divulgamos.
Lê, muito obrigada pelas palavras! Agora você pode acompanhar meus textos também no site www.blogdacomunicacao.com.br
Um beijo.
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