terça-feira, 17 de junho de 2008

O APERTO DE CADA DIA

Como as pessoas conseguem viver e sobreviver em situações de caos, de tumulto, de “aperto”?
Acabo de assistir ao “Profissão Repórter” e esta semana Caco Barcellos e sua equipe trouxeram matérias sobre pessoas que vivem em espaços cheios. Foram abordadas situações diferentes, como um jogo entre Corinthians e Botafogo no Morumbi, pessoas que vivem em cortiços de Santos e gente que enfrenta o metrô cheio diariamente. E o que mais me chamou a atenção foi a particularidade de cada caso.
Ir a um estádio para assistir um jogo é uma escolha individual, de quem sabe qual é a situação que vai encontrar e mesmo assim vai até o local pelo prazer que sente em torcer pelo time. No caso exibido durante o programa, a reportagem mostrou torcedores que enfrentaram doze horas de viagem em ônibus lotados até chegar no local da partida.
Diferente disso é a situação pela qual milhares de pessoas passam diariamente no transporte público de grandes cidades, como São Paulo. E é no metrô da capital paulista que podemos observar a pressa, o cansaço, a correria e a irritação das pessoas, que, em muitos casos, enfrentam horas para chegar do trabalho até em casa e precisam pegar mais de uma condução.
E isso é fácil observar. Basta ir até uma estação de metrô ou até um terminal rodoviário que conseguimos ver a expressão das pessoas que passam por ali. É como se cada um estivesse em seu mundo particular, ninguém cumprimenta ninguém, todos estão correndo e pensando nos próprios problemas, poucas pessoas conversam com a que está sentada ao lado e, em geral, não sabem o que existe naquele imóvel localizado na frente do ponto de ônibus.
É a correria do dia a dia de uma grande metrópole que nos impede de olhar ao redor, de observar as coisas e conversar com as pessoas. E isso é algo que acontece rotineiramente, mas sequer percebemos.
Mas de todos os casos mostrados nesta edição do “Profissão Repórter”, o que mais me deixou curiosa foi o dos cortiços do centro histórico de Santos. São casarões antigos onde várias pessoas moram, ou melhor, se aglomeram. A reportagem mostrou um banheiro que é usado por cinqüenta moradores do cortiço e a pia e o tanque são revezados entre eles.
Fico imaginado como é o dia a dia neste local, como é a vida dos idosos e das crianças que vivem lá, quais são os cuidados com a higiene...
Na minha opinião, fica muito clara a diferença em cada situação apontada e, neste caso especificamente, a situação do “aperto” é constante e refletida na vida e no cotidiano de quem vive em um local sem espaço.
Enquanto o tumulto em uma partida de futebol é opcional e o aperto no metrô é passageiro, o sufoco dentro da própria casa é constante, é como se aquelas pessoas não tivessem escolha. É a casa delas e faz parte da rotina.
De modo mais abrangente, isso retrata o espaço reduzido ao qual somos submetidos em situações diversas, mas, e o mais importante, retrata a vida de um país, uma vez que pessoas são obrigadas a viver em situações precárias, sem higiene, sem ventilação, sem “respiração”. Enquanto a falta de espaço é observada no metrô cheio, é também notada no trânsito que bate recorde a cada mês, nos eventos que as pessoas vão por opção (incluindo jogos e festas), nas escolas e creches cheias que não tem vagas e nos cortiços que abrigam várias famílias em um mesmo espaço.
Contraditório e curioso...

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