sábado, 30 de agosto de 2008

Piauí em São Paulo

“O ex-escravo das drogas” faz campanha contra o fumo pelas ruas da cidade.

Magro, baixo, cabelo rastafari, barba comprida, com os olhos atentos no que acontece ao redor e bom de papo. Esse é o Antônio José da Silva, o Piauí.
Ele tem 43 anos, morou durante dezesseis na rua, chegou a fumar três maços de cigarro por dia e era viciado em maconha e crack. Está longe das drogas – incluindo cigarro e bebida – há quinze anos e hoje, no momento em que o Governo tenta proibir o fumo em lugares fechados, ele dedica seus dias em campanha contra o tabaco.
Ele chama a atenção de quem passa pela Avenida Paulista, onde expõe cartazes alertando que o cigarro faz mal à saúde e polui o ambiente. Além desses cartazes, que ficam no chão, ele enche garrafas PET com bitucas de cigarro que recolhe na rua e expõe uma escultura feita por ele, que representa o mundo poluído pelo cigarro. Diz que é um defensor da natureza.
Piauí pretende contar sua história em um livro, cujo nome será “O ex-escravo das drogas”, e diz que mudou de vida por causa de uma mulher.
Conheceu sua atual esposa quando ainda morava na rua. Na ocasião, ele fumava maconha. Ela olhou para o homem drogado e de aparência suja e disse que ele não poderia ser derrotado pelas drogas. “Ela tinha só 15 aninhos e me disse que eu era um cara bom, mas não poderia deixar a droga crescer para cima de mim. Eu é que tinha que crescer para cima dela”.
A partir desse dia, Piauí decidiu mudar de vida. Pediu aquela mulher em namoro e, juntos, fugiram para o Amazonas. Estão casados há quinze anos e têm duas filhas, Babilônia, de 13, e Mara Luara, de 11. Piauí ganha a vida vendendo artesanato e sua esposa trabalha em um supermercado.
Enquanto expõe sua arte, jovens passam pela Paulista e o cumprimentam. Outras pessoas, que não conhecem aquela figura excêntrica, olham com curiosidade, mas passam sem parar.
Ele conta que estudou só até o segundo ano primário, mas faz questão de dizer que gosta muito de ler e sempre aconselha os jovens e as suas filhas a estudar.
Durante anos viciado em drogas e morando na rua, Piauí enfrentou muitas humilhações e dificuldades. Em uma ocasião, quando dormia, acordou com o cobertor pegando fogo. Chegou a comer lixo e, no auge do vício, em 1982, foi até a Colômbia porque ouviu falar que lá tinha muita droga.
Livre do cigarro, do álcool, da maconha e do crack, hoje ele pratica esportes e se orgulha em dizer que acorda todos os dias às cinco e meia da manhã para correr.
Piauí é um homem simples, não tem pudores para falar sobre seu passado, conversa e argumenta muito bem, e é cheio de planos.
Um de seus sonhos é fazer um trabalho na Cracolândia para ajudar os viciados a sair das drogas. “Eu conheço a língua deles, eu sei como chegar neles. Já morei na rua, sei como é.”
Sim, ele é um sonhador e diz que se sente na obrigação de fazer alguma coisa para mudar o planeta. Acredita que Deus colocou a esposa na vida dele e o fez mudar de vida. Fala ainda que se sente covarde se não ajudar os outros a deixar o vício. “As pessoas só se preocupam com bens materiais. Cada um quer cuidar do que é seu. Se eu não fizer nada, quem vai fazer o que eu estou fazendo?”, questiona, com o olhar inconformado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nat, gostei do teu blog.
=]
te linkei no meu, que é o www.paulinhaonline.wordpress.com

enfim, parabens, teu blog eh mt bom :)
beijos, ana paula
( da unisantos, lembra?)

Anônimo disse...

Uma história interessante de um estilo de personagem que muitas vez passa batida. Boa Natália, muito bom mesmo, Beijos, Gui.