segunda-feira, 30 de junho de 2008

Restrições no trânsito de São Paulo.

Começaram a valer hoje as novas medidas de restrição à circulação de caminhões na cidade de São Paulo. E como já era de se esperar, começou com confusão e protestos da categoria, que parou o trânsito da capital.
Cerca de trinta caminhões iniciaram uma manifestação e ocuparam uma pista da Marginal do Pinheiros, por volta da uma e meia da tarde de hoje. E as conseqüências foram mais complicações e reflexos no trânsito da cidade durante todo o dia. O número de manifestantes aumentou, chegando a sessenta veículos, e eles seguiram pelas marginais de São Paulo, concentrando-se, às cinco horas da tarde, na pista de acesso ao Anhembi.
As novas medidas foram tomadas para tentar controlar, ou minimizar, o caos do trânsito em São Paulo, e anunciadas na última sexta-feira pelo prefeito Gilberto Kassab e pelo secretário geral de Transportes, Alexandre de Moraes.
Sendo assim, a partir de hoje, caminhões de médio e grande porte estão proibidos de transitar entre às cinco horas da manhã e às nove horas da noite, de segunda a sexta-feira, e das dez da manhã às duas da tarde aos sábados. Os caminhões de pequeno porte entram em um novo sistema de rodízio de placas, ou seja, os de placa par só circulam nos dias pares, e vice-versa. Além de seguir as regras do já conhecido rodízio de veículos.
Essas restrições são adotadas em uma área de cem quilômetros quadrados no centro expandido, a chamada Zona Máxima de Restrição de Circulação.
A fiscalização fica por conta da CET, que organizou um esquema para evitar que os motoristas tentem driblar e fugir das novas regras.
A regra tem exceções. Alguns veículos como os caminhões que prestam serviços de urgência, os de socorro mecânico de emergência, cobertura jornalística, correios, entre outros não estão sujeitos às penalidades.
O secretário municipal de Transportes, Alexandre de Moraes, estima uma melhora entre catorze e dezessete por cento no fluxo do trânsito, o que representa oitenta e cinco mil caminhões a menos nas ruas da capital. Número significativo para uma cidade que já registrou o recorde de 266 km de congestionamento.
Vale lembrar que a medida tem o objetivo de restringir a circulação dos caminhões em alguns horários e em algumas áreas de São Paulo, que já é uma cidade caracterizada e conhecida pelas filas imensas de congestionamento, pelos acidentes de trânsito e pelas ruas que já não suportam mais a frota de seis milhões de veículos.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Tolerância Zero!

Agora é lei. E autoridades dizem que vai valer: não pode mais dirigir após beber. E agora não pode mesmo! A tolerância é zero! O famoso teste do bafômetro será mais rígido e os motoristas serão punidos caso seja constatado algum vestígio de álcool, por menor que seja.
O decreto não é claro, e está causando muitas discussões.
É fato, e indiscutível, que bebidas alcoólicas e direção não combinam, e que juntas podem causar graves acidentes. O número de pessoas, principalmente jovens, que sofrem acidentes de trânsito por dirigirem alcoolizados é enorme, e muitos morrem em decorrência disso.
Obviamente, a fiscalização precisa ser mais rígida e intensificada. Mas com bom senso, é claro!
Um copo de cerveja, uma dose de algum destilado, ou mesmo uma taça de vinho demoram uma hora para serem absorvidos pelo organismo e, sendo assim, o aparelho detecta a ingestão de álcool.
Foi no mínimo curiosa a reportagem de Eleonora Pascoal, da TV Bandeirantes, na qual ela se submeteu ao teste do bafômetro após comer uma sobremesa de papaya com licor de cassis. E o mais incrível: o aparelho acusou que ela havia ingerido álcool. Logo depois, ao beber um copo de água após comer o bombom de licor, nada foi apontado.
Hoje, Chico Pinheiro e Carla Vilhena, da Rede Globo, entrevistaram o major Ricardo de Barros, do 34º Batalhão da Polícia Militar, durante o SPTV 1ª Edição. O entrevistado, ao falar da rigidez e fiscalização da lei, contou que na cidade de São Paulo existem quinze bafômetros.
Diante do tamanho da cidade, Chico Pinheiro perguntou se o número não é insuficiente. O major da PM, tentando se explicar, disse que não, pois muitas pessoas são submetidas ao teste, no mesmo aparelho, em uma mesma noite. Quantas pessoas? A resposta foi vinte carros em sessenta locais diferentes.
Multiplicando...sessenta lugares, vinte motoristas em cada local... chegamos a mil e duzentas pessoas. Não me parece suficiente para uma cidade que atingiu a marca de seis milhões de veículos. Por mais que, no mesmo dia, os quinze bafômetros existentes em São Paulo sejam usados para fiscalizar esses mil e duzentos motoristas, o número chega a dezoito mil.
Embora seja necessária a fiscalização ser mais rígida, o assunto precisa ser estudado e a lei elaborada de maneira sensata, para que seja aplicada de modo eficaz. Caso contrário, será um pretexto para aplicar multas, e não cumprirá o papel que, teoricamente, deve cumprir, que é o de atuar na fiscalização para evitar acidentes caudados por pessoas que estão, de fato, embriagadas.
Isso me faz lembrar da lei que tornou obrigatório um kit de primeiros socorros em todos os veículos, em 1999. A exigência foi criticada em todo o país e tida como uma fábrica de dinheiro. O kit se tornou obrigatório, mas os motoristas não estavam preparados para realizar esse primeiro atendimento. Três meses depois, a lei foi derrubada.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Morte de bebês em Belém do Pará.

Doze recém nascidos morreram neste final de semana, entre sexta-feira e domingo, na Santa Casa de Misericórdia de Belém, na região norte do país.
O mais chocante dessa história é a posição do hospital, que disse em nota que os bebês eram prematuros ou então tinham problemas sérios de saúde, e que em momento algum as mortes foram causadas por erro médico ou problemas estruturais.
Ou seja, é como dizer que a morte desses doze bebês em um mesmo fim de semana é decorrente dos problemas que essas crianças tinham. Como se já estivessem condenadas à morte.
Os prontuários médicos serão analisados e o hospital investigado, já que o Sindicato dos Médicos de Belém denunciou as mortes e afirma que a Santa Casa não tem uma estrutura adequada, além da superlotação na unidade.
Na nota divulgada à imprensa, o hospital busca uma série de explicações (inaceitáveis, diante da situação). Uma delas é dizer que a mortalidade está de acordo com a taxa aceita pela Organização Mundial de Saúde.
É muita coincidência doze crianças morreram em dois dias no mesmo hospital, hospital esse que afirma veementemente que não tem culpa e que eram bebês que, em alguns casos, não tinham muitas chances de vida.
Curioso seria se doze bebês morressem no mesmo fim de semana em um hospital particular de São Paulo, por exemplo. Mas como isso aconteceu em um hospital público de Belém do Pará...

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Desigualdade diminui.

Foi publicado hoje no site da BBC Brasil, o resultado de um estudo realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre a desigualdade dos salários no Brasil. E o que a pesquisa apontou foi uma redução: a diferença entre ricos e pobres caiu quase sete por cento no período entre o quarto trimestre de 2002 e o primeiro de 2008.
Segundo o presidente do Instituto, Marcio Pochmann, isso foi possível graças ao crescimento econômico aliado às políticas sociais.
Não é de hoje que se fala em educação como fator primordial para mudanças sociais e, por conseqüência, econômicas. E também não é novidade relacionar a educação – ou melhor, a falta da escolaridade – à escassez de oportunidades, ao desemprego, e mesmo à criminalidade.
"Geralmente aqueles que têm melhor escolaridade tendem a ter melhores resultados, [...]. O crescimento cria um ambiente favorável, mas por si só não garante melhor distribuição intersalarial", disse Pochmann.
Ou seja, a diminuição da diferença salarial fica ameaçada pelas altas taxas de juros e pela inflação.
Segundo o presidente do Ipea, para manter essa queda na desigualdade são necessárias mudanças no “padrão tributário” do Brasil, uma vez que o grande número de impostos indiretos faz com que a população mais pobre acabe pagando, nas devidas proporções, mais taxas do que os ricos.

sábado, 21 de junho de 2008

Onde há fumaça há fogo? Mas será mesmo que é fumaça?

“Um avião cai em prédio comercial na zona sul de São Paulo”. Essa foi a informação dada por alguns meios de comunicação no dia 20 de maio passado. Um dos princípios do jornalismo: checar, apurar, para só então divulgar. Pois é, parece que não foi exatamente isso que aconteceu naquela terça-feira.
Eram cinco horas da tarde quando o Corpo de Bombeiros deslocou viaturas para combater as chamas de um incêndio que atingia uma loja de colchões, próxima da avenida Santo Amaro. Mas isso só foi dito minutos depois pelas emissoras que corrigiram o erro (de modo quase imperceptível) e por outra que entrou no ar com a informação correta.
Enquanto as imagens do fogo eram transmitidas, sites e duas emissoras de televisão narravam o fato afirmando que se tratava de um acidente aéreo, o que, se tivesse realmente acontecido, provavelmente teria deixado muitas vítimas, já que quedas de aeronaves são geralmente trágicas.
Ao “descobrir” que estavam divulgando informações erradas, os ditos jornalistas simplesmente mudaram o discurso e começaram a noticiar o que de fato estava acontecendo naquela tarde. São nesses momentos que podemos parar para refletir sobre o jornalismo e toda aquela história que caracteriza a profissão: credibilidade, informação correta e bem apurada. O motivo do... digamos, engano? A pressa em dar a notícia primeiro, com exclusividade, e a ânsia em dar o furo jornalístico.
Enquanto a suposta queda de avião era transmitida por outras emissoras, editores, chefes de reportagens, pauteiros e toda a redação se perguntavam o que estava acontecendo. A resposta? Era um incêndio em uma loja! Ninguém confirmava a queda de um avião!
Onde fica a responsabilidade da imprensa nessas horas? Quantas pessoas que viram aquilo não se assustaram e lembraram do trágico vôo da TAM, que caiu no ano passado em São Paulo, marcando a maior tragédia da aviação brasileira? Quantos brasileiros entraram em pânico, pensando que aquele poderia ser o vôo onde estavam seus parentes e amigos? Ou, então, quantas pessoas se desesperaram tentando saber se aquele prédio atingido não seria o mesmo onde trabalham ou moram pessoas queridas?
Nas faculdades de jornalismo, e mesmo nas redações de televisões, rádios e jornais, sempre ouvimos a importância de uma boa apuração, a necessidade de checar, de conversar com as fontes, de perguntar o que está acontecendo e confirmar com mais de uma fonte. E isso é, indiscutivelmente, indispensável.
O jornalismo é tido por muitos como o “quarto poder”, e, de fato, tem um poder enorme sobre a população, pois é através dele que somos informados, que somos inseridos na sociedade e que podemos conhecer o mundo e a atualidade diante das telas e páginas de jornais e revistas.
O jornalismo, ao mesmo tempo em que é uma profissão que traz enorme satisfação a quem o faz, traz também muita responsabilidade. O jornalista sente que não pode errar e dizer o que não corresponde à realidade. É difícil escrever “erramos”, e isso, no Brasil, geralmente é escrito de modo discreto, sem muito alarde e com letras pequenas.
Daí a necessidade em refletir sobre a ética da profissão e a linha adotada por cada empresa, que deveria seguir, como regra, o princípio de somente informar depois de checar e apurar bem o fato.
Situações como essas deveriam servir de exemplo para os profissionais que têm de ter em mente a responsabilidade que carregam nas costas e as conseqüências que as notícias transmitidas exercem sobre a população.


* Matéria publicada dia 21-05-08 no Momento Online ( jornal eletrônico do curso de Comunicação Social da Fiam)
http://www.fiamfaam.br/mol/ler.asp?id_news=1081&cont=LerMateria

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Professores em greve.

Tenho o costume de observar as pessoas na rua e ouvir o que elas conversam, dependendo do assunto, presto atenção. No início dessa semana estava no ônibus, a caminho do trabalho, quando ouvi uma mulher conversar com o filho pelo telefone. Ela dizia: “mas por que os professores estão em greve?”.
Não sei qual foi a resposta do outro lado da linha. Poucos minutos depois, ela desligou o celular.
Logo pensei que este seria o assunto da semana, embora, na minha opinião, merecesse mais destaque na imprensa, já que atinge todo o estado de São Paulo e, segundo a Associação dos professores, setenta por cento das escolas aderiram à paralisação.
Hoje completa uma semana que foi anunciada a greve dos professores da rede estadual. A Apeoesp não aceitou os doze por cento de reajuste salarial propostos pela Secretaria de Educação, sendo assim, a greve continua pelo menos até o próximo dia vinte e sete, quando será realizada mais uma assembléia.
Enquanto isso, os professores se reúnem em assembléias e passeatas. Nesta tarde, aproximadamente cinco mil pessoas fecharam a Avenida Paulista; na semana passada, este número chegou a dez mil.
No entanto, o número de manifestantes no protesto de hoje foi controverso: enquanto a Polícia Militar informou cinco mil, o sindicato afirma que chegou a reunir sessenta mil pessoas. Uma diferença muito significativa!
A Associação dos professores do estado de São Paulo informou que, além do reajuste salarial, a categoria exige a revogação do decreto 53.037/08, que impõe restrições à transferência de escola e cria a avaliação de desempenho para temporários.
Enfim... a greve continua.
E como estão os alunos da rede estadual? Aulas interrompidas no final do semestre. E até que seja feito um acordo, a situação continuará assim... Volta às aulas? Talvez no período de férias...

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Um crime. Uma morte e dois suspeitos previamente condenados.

Dia 29 de março de 2008. Uma criança morreu. Foi jogada da janela do sexto andar do edifício onde passava os fins de semana com o pai, a madrasta e dois irmãos menores. Nas palavras da delegada, foi assassinada de modo cruel.
A imprensa toda fez plantão na porta da delegacia que investiga o caso, na casa da mãe da menina, na casa dos avôs da criança, local onde o pai e a madrasta passaram alguns dias, na frente das penitenciárias para onde o casal foi levado.
Cenário de filme, câmeras e luzes a postos para pegar o melhor ângulo dos vilões, sucesso de bilheteria. Ou melhor, de audiência.
Quem matou Isabella?
Os acusados pela morte da menina de cinco anos são o próprio pai, Alexandre Nardoni, e a esposa dele, Anna Carolina Jatobá. Segundo a polícia, as evidências são claras. Os advogados de defesa do casal negam que os clientes tenham culpa e afirmam que um ladrão teria invadido o apartamento. Dizem ainda que as provas apontadas pela polícia e que os laudos do Instituto Médico Legal são frágeis, e contratam profissionais para apontar essas falhas da perícia.
A grande questão de toda essa história deixou de ser simplesmente o crime e sua solução. As pesssoas se envolveram a ponto de acompanhar passo a passo as investigações através da imprensa, que não perde nenhum detalhe. Isabella tornou-se muito próxima de cada telespectador, tornou-se uma criança pela qual as pessoas choram e lutam por justiça. É como se fosse um símbolo. Situação semelhante com o caso do menino João Hélio, que morreu após ser arrastado por quilômetros pelas ruas do Rio de Janeiro.
Todos acompanham atentos as entrevistas dos envolvidos no crime que matou Isabella. O pai, a madrasta, a mãe, o tio, o avô - todos mostram a cara e falam com os jornalistas.
O crime tornou uma história parecida com os filmes e novelas: qual será o próximo passo?
Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foram indiciados, tiveram a prisão preventiva decretada, foram presos e transferidos para penitenciárias no interior do estado, além disso, dois pedidos de habeas corpus já foram negados e os advogados estudam novas táticas de defesa e afirmam a inocência de seus clientes.
Esta semana a justiça ouve o depoimento das testemunhas. Hoje foi a vez da mãe de Isabella, que afirmou acreditar no envolvimento de Alexandre e Anna Carolina no crime. Vizinhos também foram ouvidos, a avó materna da criança...e por aí vai.
Pessoas serão ouvidas novamente, novas testemunhas devem ser apresentadas e o casal acusado acompanha os depoimentos na presença dos advogados, que negam insistentemente a participação de seus clientes no crime.
Durante os depoimentos, surgem novas declarações. E mais uma vez, a polêmica: Pietro, o irmãozinho de Isabella que tem apenas três anos de idade, deve ser interrogado? Talvez ele seja a única pessoa que realmente presenciou os últimos minutos de Isabella. Seriam dele os gritos de “pára pai!” ouvidos pelos vizinhos? Pietro teria visto Anna Crolina estrangular a menina? A justiça brasileira está preparada para interrogar uma criança tão pequena? E este garoto, de três anos, consegue dizer e lembrar o que de fato aconteceu naquela noite do dia vinte e nove de março?
Já se passaram quase três meses que Isabella morreu e o caso ainda não foi esclarecido. A imprensa e a população acompanham atentos cada novidade e ainda fazem os mesmos questionamentos.
Quem matou Isabella? Como a menina morreu? E qual foi o motivo do crime? Ciúmes?
São todas as questões que, ao mesmo tempo que já foram respondidas pela polícia, pelo promotor, pela perícia até mesmo pela população, ainda geram dúvidas e controvérsias. São versões que não se encaixam, fatos novos que surgem, perito contratado para pôr em dúvida os laudos do IML,
Afinal, um pai teria coragem de matar a própria filha?

terça-feira, 17 de junho de 2008

O APERTO DE CADA DIA

Como as pessoas conseguem viver e sobreviver em situações de caos, de tumulto, de “aperto”?
Acabo de assistir ao “Profissão Repórter” e esta semana Caco Barcellos e sua equipe trouxeram matérias sobre pessoas que vivem em espaços cheios. Foram abordadas situações diferentes, como um jogo entre Corinthians e Botafogo no Morumbi, pessoas que vivem em cortiços de Santos e gente que enfrenta o metrô cheio diariamente. E o que mais me chamou a atenção foi a particularidade de cada caso.
Ir a um estádio para assistir um jogo é uma escolha individual, de quem sabe qual é a situação que vai encontrar e mesmo assim vai até o local pelo prazer que sente em torcer pelo time. No caso exibido durante o programa, a reportagem mostrou torcedores que enfrentaram doze horas de viagem em ônibus lotados até chegar no local da partida.
Diferente disso é a situação pela qual milhares de pessoas passam diariamente no transporte público de grandes cidades, como São Paulo. E é no metrô da capital paulista que podemos observar a pressa, o cansaço, a correria e a irritação das pessoas, que, em muitos casos, enfrentam horas para chegar do trabalho até em casa e precisam pegar mais de uma condução.
E isso é fácil observar. Basta ir até uma estação de metrô ou até um terminal rodoviário que conseguimos ver a expressão das pessoas que passam por ali. É como se cada um estivesse em seu mundo particular, ninguém cumprimenta ninguém, todos estão correndo e pensando nos próprios problemas, poucas pessoas conversam com a que está sentada ao lado e, em geral, não sabem o que existe naquele imóvel localizado na frente do ponto de ônibus.
É a correria do dia a dia de uma grande metrópole que nos impede de olhar ao redor, de observar as coisas e conversar com as pessoas. E isso é algo que acontece rotineiramente, mas sequer percebemos.
Mas de todos os casos mostrados nesta edição do “Profissão Repórter”, o que mais me deixou curiosa foi o dos cortiços do centro histórico de Santos. São casarões antigos onde várias pessoas moram, ou melhor, se aglomeram. A reportagem mostrou um banheiro que é usado por cinqüenta moradores do cortiço e a pia e o tanque são revezados entre eles.
Fico imaginado como é o dia a dia neste local, como é a vida dos idosos e das crianças que vivem lá, quais são os cuidados com a higiene...
Na minha opinião, fica muito clara a diferença em cada situação apontada e, neste caso especificamente, a situação do “aperto” é constante e refletida na vida e no cotidiano de quem vive em um local sem espaço.
Enquanto o tumulto em uma partida de futebol é opcional e o aperto no metrô é passageiro, o sufoco dentro da própria casa é constante, é como se aquelas pessoas não tivessem escolha. É a casa delas e faz parte da rotina.
De modo mais abrangente, isso retrata o espaço reduzido ao qual somos submetidos em situações diversas, mas, e o mais importante, retrata a vida de um país, uma vez que pessoas são obrigadas a viver em situações precárias, sem higiene, sem ventilação, sem “respiração”. Enquanto a falta de espaço é observada no metrô cheio, é também notada no trânsito que bate recorde a cada mês, nos eventos que as pessoas vão por opção (incluindo jogos e festas), nas escolas e creches cheias que não tem vagas e nos cortiços que abrigam várias famílias em um mesmo espaço.
Contraditório e curioso...