Um confronto entre Polícia Militar e estudantes, em qualquer situação, não deveria acontecer nunca – partindo de princípios básicos, a PM deve combater o crime e a violência e os estudantes devem estudar e se preparar para serem bons profissionais. Até aí, isso é o que deveria acontecer. Sabemos que nem sempre os alunos têm essa postura – nos dias de hoje, quase nunca – e que nem sempre a polícia cumpre seu dever como deveria. Nenhuma novidade. Sabemos também que muitas manifestações ocorrem nas universidades, principalmente nas públicas – o que é muito justo quando a causa é pertinente e a luta é por melhoria na educação, melhor infraestrutura e salários mais justos para os funcionários – e não raro esses protestos são reprimidos pela polícia. Tudo bem, não tiro a razão dos estudantes e funcionários que se manifestam em busca de coisas melhores, estão certíssimos. Agora, fazer uma manifestação e entrar em confronto com a PM porque três estudantes foram presos por fumar maconha dentro da USP é o fim da picada!
O que esses alunos que entraram em confronto com a polícia na noite de ontem querem? Simplesmente brigar porque acham que as drogas devem ser legalizadas e porque não acharam certo três estudantes serem detidos porque estavam com maconha? Quer lutar pela liberação das drogas? Justo, a questão está aí para ser discutida. Mas usar a violência e atos irresponsáveis para isso não têm sentido nenhum. Perde totalmente a razão quem usa a violência e o vandalismo para buscar soluções.
Ou isso que está acontecendo desde ontem na USP não é vandalismo? Ah, a questão é o uso de drogas, que não deve ser reprimido? Ou deve ser liberado e permitido dentro da USP, independentemente da lei? Sim, caros alunos, vocês merecem o direito de fumar maconha – e não podem ir pra delegacia por isso - só porque são alunos da USP, superiores e muito melhores do que o resto da população, é isso que pensam? E é claro, o campus é muito seguro e a PM não tem necessidade de fazer o policiamento – afinal, nunca aconteceu nenhum crime lá! Ah, jogar cavaletes contra a polícia, chutar e subir em cima de viaturas e jogar pedras contra carros, policiais e jornalistas não é vandalismo não, é liberdade e luta pelos direitos! É isso que vocês chamam de movimento estudantil? E vocês ainda querem dizer que o bom senso está do lado dos estudantes que fumam maconha dentro da universidade, protestam contra o policiamento e não se preocupam com a qualidade da educação pública e muito menos com o respeito ao próximo? Parabéns, caros estudantes da Universidade de São Paulo que se negam a desocupar o prédio enquanto o convênio com a PM não for desfeito!
Não, caros alunos, sinto muito, mas a atitude não passa de vandalismo e está longe de ser uma manifestação estudantil séria. O policiamento deve sim ser reforçado dentro do campus da USP, que todos sabem que está longe de ser seguro. Crimes devem ser combatidos, furtos, roubos e homicídios dentro de uma universidade pública são inaceitáveis. E enquanto as drogas forem proibidas no Brasil, o uso delas continuará sendo crime, o usuário continuará sendo detido e o traficante continuará sendo preso; e quem é a favor da legalização continuará lutando pela legalização. Simples assim, de acordo com a Lei.
Enquanto vândalos e moleques inconsequentes disfarçados de estudantes sérios ocupam o prédio da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, os alunos que realmente comportam-se como estudantes da Universidade de São Paulo e que serão profissionais reconhecidos e competentes, com uma formação digna de quem ralou muito para se formar, os verdadeiros intelectuais – sejam alunos ou professores -, os mestres e doutores que frequentam a USP com dignidade e respeito pela Educação são obrigados a ver toda essa palhaçada e, pior, são obrigados a ver o nome da instituição cada vez mais manchado por pessoas que insistem em ter atitudes inconsequentes que nada tem a ver com educação e com o significado de ser estudante.
E vocês, caros manifestantes que protesto contra o convênio da USP com a PM, ocupem-se com coisas úteis, com manifestações sérias e com discussões produtivas.
Foto: Letícia Macedo/G1