Criança de 10 anos que entrou armada na escola, baleou a professora e atirou na própria cabeça é um caso extremo que merece atenção das autoridades, mesmo que esta preocupação venha tarde demais, depois de toda a tragédia
Quinta-feira, 22 de setembro de 2011, na Escola Municipal Alcina Dantas Feijão, em São Caetano do Sul, região metropolitana de São Paulo. Um crime dentro da escola. Professora baleada, garoto de 10 anos morto. O atirador: o próprio garoto de 10 anos que morreu.
Davi Mota Nogueira, aluno do 4° ano do Ensino Fundamental, pegou a arma do pai – um revólver calibre 38 -, foi para a escola, assistiu as três primeiras aulas e, na quarta aula do dia, pediu licença à professora para ir ao banheiro. Voltou atirando. Rosileide Queiros de Oliveira, de 38 anos, foi baleada pelo aluno na região abdominal. O garoto, após disparar contra a professora, foi para o corredor da escola e atirou contra a própria cabeça. Foi socorrido, mas morreu. A professora passou por cirurgia e está fora de perigo. As outras 25 crianças da sala onde aconteceu a tragédia assistiram tudo e carregarão para o resto da vida o trauma de ver o colega de classe, de 10 anos, atirando.
Segundo a diretora da escola, o menino era calmo, bom aluno e sem histórico de violência. O pai é guarda-civil metropolitano, há mais de 14 anos na corporação. A polícia tenta entender o caso, até agora sem explicação e sem motivo aparente.
A história, que mais parece enredo de filme, deixou todo o país chocado e incrédulo. Ao pensar no título deste texto, cheguei a escrever “Tragédia na porta da escola – mais uma”. Realmente, esta é só mais uma tragédia que aconteceu na porta das escolas brasileiras – na maioria dos casos, colégios públicos. Lamentável constatação e triste observação é afirmar que a exceção está se tornando regra, e casos de mortes e assassinatos nas escolas nos chocam, ficamos indignados, inconformados, mas a sensação é de que a tragédia já era prevista, anunciada. Ao me deparar com notícias deste tipo tenho a impressão de que poderia ter sido evitado, vidas poderiam ser poupadas e crianças poderiam estar vivendo como crianças, sem traumas, vivas, brincando.
E os questionamentos são muitos. Como uma criança de 10 anos pode usar uma arma? Atirar na professora e, em seguida, se matar? O que se passava na cabeça dessa criança? Como estava a vida desse menino em casa, qual o relacionamento com a família? E na escola? Tinha amigos? Era vítima de bullying e violência? Tinha algum distúrbio psicológico? Trata-se de uma criança de apenas 10 anos!
Perguntas como essas, que certamente atormentam todas as pessoas que param para refletir sobre o caso, nunca terão respostas. Mas a luta para impedir novos casos de violência nas escolas não pode ser deixada de lado. Autoridades têm a obrigação de tratar o assunto com prioridade, não apenas nos discursos bonitos, mas na prática, com investimento, acompanhamento e fiscalização da segurança pública e da educação. A polícia tem o dever de fiscalizar, acompanhar, estar presente no dia a dia das pessoas. Os professores precisam ficar de olho no comportamento dos alunos, e não apenas nas notas. A violência escolar deve ser combatida a todo custo. E a família, base a educação de toda criança, tem a obrigação de acompanhar o desenvolvimento de seus filhos, o dever de conversar, orientar e, acima de tudo, cuidar.